terça-feira, 31 de maio de 2011

GILGAMESH E A TERRA DOS VIVOS

O senhor para a Terra dos Vivos dirigiu o seu pensamento,
O senhor Gilgamesg para a Terra dos Vivos dirigiu o seu pensamento,
Ele diz ao seu servidor Enkidu:
"Ó Enkidu, o tijolo e o selo ainda não deram origem ao fim fatal,
Eu entraria na "terra", eu elevaria o meu nome,
Nos lugares onde os nomes foram elevados eu elevaria o meu nome,
Nos lugares onde os nomes ainda não foram elevados eu elevaria os nomes dos deuses".
O seu servidor Enkidu respondeu-lhe:
"Ó meu senhor, se tu queres entrar na "terra", informa Utu,
Informa Utu, o herói Utu –
A "terra" está a cargo de Utu,
A terra dos cedros abatidos está a cargo do herói Utu – informa Utu".
Gilgamesh poisou as suas mãos sobre um cabrito todo branco,
Um cabrito castanho, uma oferenda, ele apertou contra o peito,
Na sua mão colocou o bastão de prata (...)
Diz a Utu do Céu:
"Ó Utu, eu quereria entrar na "terra", sê meu aliado,
Eu quereria entrar na terra do cedro abatido, sê meu aliado".
Utu do Céu respondeu-lhe:
"É verdade que tu é (...), mas o que és tu para a "terra"?"
"Ó Utu, eu quereria dizer-te uma palavra, para a minha palavra o teu ouvido,
Eu fá-la-ia chegar a ti, dá-lhe ouvidos.
Na minha cidade morre-se, oprimido está o coração,
O homem perece, pesado está o coração.
Eu espreitei sobre o muro,
Vi os cadáveres... flutuando no rio;
Quanto a mim, eu terei o mesmo destino; verdadeiramente assim será.
O homem, por mais alto, não pode chegar ao Céu,
O homem, por mais largo, não pode cobrir a Terra.
O tijolo e o selo não decretaram ainda o fim fatal
Eu quereria entrar na "terra", fixaria o meu nome,
Nos lugares onde os nomes foram erguidos eu ergueria o meu nome,
Nos lugares onde os nomes não foram erguidos ergueria o nome dos deuses".
Utu aceitou as suas lágrimas como oferenda,
Como um homem de misericórdia, mostrou-lhe misericórdia,
Os sete heróis, os filhos de uma mãe, (...)
Ele trouxe para dentro das cavernas da montanha.
Quem abateu o cedro agiu alegremente,
O senhor Gilgamesh agiu alegremente,
Na sua cidade, como um homem, ele
Como dois companheiros, ele
"Quem tem casa, para sua casa! Quem tem mãe, para a sua mãe!
Que os homens solteiros que fariam como eu, cinquenta, permaneçam a meu lado".
À casa dos forjadores ele se dirigiu,
O machado, o seu "poder de heroísmo" ele ali mandou fundir.
Ao jardim da planície se dirigiu,
A árvore, o salgueiro, a macieira, o buxo, a árvore ali derrubou.
Os "filhos" da sua cidade que o acompanhavam colocaram-nos nas suas mãos.
Após passarem as montanhas, Gilgamesh adormeceu. Enkidu tenta despertá-lo.
Toca-lhe, ele não se ergue,
Fala-lhe, ele não responde.
"Tu que estás deitado, tu que estás deitado,
Ó Gilgamesh,, senhor, filho de Kullab, por quanto tempo permanecerás deitado?
A "terra" escureceu, as sombras derramaram-se sobre ela,
O crepúsculo fez brotar a sua luz,
Utu foi de cabeça erguida para o seio de sua mãe, Ningal,
Ó Gilgamesh, por quanto tempo permanecerás deitado?
Não deixes que os filhos da tua cidade que te acompanham
Permaneçam esperando por ti ao pé da montanha,
Não permitas que a tua mãe que te deu o ser seja conduzida à "praça" da cidade".
Ele consentiu,
Com a sua "palavra de heroísmo" cobriu-se como um vestuário,
O seu vestuário de trinta siclos que levava na mão cruzou sobre o peito,
Como um touro, fixou-se na "grande terra",
Encostou a boca ao solo, os seus dentes abanaram.
"Pela vida de Ninsun, minha mãe que me deu o ser, e do puro Lugalbanda, meu pai, Possa eu tornar-me como alguém que se senta, para ser admirado, nos joelhos de Ninsun, a mãe que me deu o ser":
Uma segunda vez ele lhe diz:
"Pela vida de Ninsun, minha mãe que me deu o ser, e do puro Lugalbanda, meu pai, Até que eu tenha morto esse ‘homem’, se ele for um homem, até que o tenha morto, se ele for um deus,
Os meus passos dirigidos para o ‘campo’, não os dirigirei para a cidade".
O atento servidor suplicou, (...) ou a vida,
Ele respondeu ao senhor:
"Ó meu senhor, tu, que nunca viste este ‘homem’, não estás aterrorizado,
Eu, que vi este ‘homem’, estou aterrorizado.
O guerreiro, os seus dentes são os dentes de um dragão,
O seu rosto, é o rosto de um leão,
O seu (...) é o curso de água torrencial,
Da sua fronte, que devora árvores e juncos, nada escapa.
Ó meu senhor, parte para o ‘campo’, eu partirei para a cidade,
Direi a tua mãe da tua glória, que ela te louve,
Dir-lhe-ei da tua morte próxima, que ela verta lágrimas amargas.
Por mim um outro não morrerá, o barco carregado não se afundará,
O fato de três pregas não será cortado,
O (...) não será submergido,
O fogo não destruirá a casa e a cabana.
Ajudai-me e ajudar-te-ei, o que pode acontecer-nos?
Vem, vamos para a frente, fixá-lo-emos com os nossos olhos,
Se avançarmos,
E se houver medo, se houver medo, fá-lo arrepiar caminho,
Se houver terror, se houver terror, fá-lo arrepiar caminho,
No teu (...), vem, vamos para a frente".
Quando ainda não tinha chegado a uma distância de 1200 pés,
Huwawa, a sua casa de cedro,
Fixou o seu olhar sobre ele, o olhar da morte,
Inclinou a cabeça sobre ele, agitou a cabeça para ele,
Ele próprio Gilgamesh arrancou a primeira árvore,
Os ‘filhos’ da sua cidade que o acompanhavam
Cortaram-lhe a rama, apanharam-na,
Puseram-na no sopé da montanha.
Depois ele próprio, tendo arrancado a sétima, aproximou-se do seu quarto,
Dirigiu-se para a ‘cobra do cais do vinho’ na sua parede,
Como alguém depondo um beijo, ele esbofeteou-lhe a face.
Huwawa, o seu dente abanou, a sua mão tremeu,
"Eu gostaria de te dizer uma palavra,
(Ó Utu), não conheço a mãe que me deu o ser, não conheço o pai que me criou,
Na ‘terra’ deste-me o ser, criaste-me".
Ele esconjurou Gilgamesh pela vida do Céu, pela vida da Terra, pela vida do mundo inferior,
Tomou-o pela mão (...).
Então o coração de Gilgamesh teve piedade,
Diz ao seu servo Enkidu:
"Ó Enkidu, deixa o pássaro cativo voltar para o seu lugar,
Deixa o homem cativo voltar ao seio de sua mãe".
Enkidu responde a Gilgamesh:
"O mais alto que não tem razão,
Namtar (demónio da morte) o devorará, Namtar que não conhece distinções.
Se o pássaro cativo voltar ao seu lugar,
Se o homem cativo voltar ao seio de sua mãe,
Tu não voltarás à cidade da mãe que te deu o ser".
Huwawa diz a Enkidu:
"De mim, ó Enkidu, tu disseste-lhe mal,
Ó homem vendido (...) tu disseste-lhe mal".
Quando ele assim falou,
Eles cortaram-lhe o pescoço;
Colocaram sobre ele (...)
Trouxeram-no perante Enlil e Ninlil (...).


Fonte: http://www.pauloliveira.com/MySiteOLD/Zigurate/Zigurates.htm

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